A era da disrupção digital e da inovação está aí diante de nós. O mundo todo passou por processos de disrupção graças à globalização, o ritmo acelerado da tecnologia e mudanças nos dados demográficos da força de trabalho.
Embora esses avanços tenham criado soluções inovadoras para a forma de trabalharmos, eles também trouxeram novos riscos e desafios para o mundo dos negócios. Isso leva a uma incerteza quanto ao futuro das empresas e à sua capacidade de impulsionar o crescimento. Em particular, a atração e a retenção de talentos são muitas vezes identificadas como um risco competitivo, mesmo nas grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício.
A busca pelos melhores talentos sofreu um processo de disrupção especialmente por causa da Gig Economy (Economia do Trabalho Freelancer), em que os colaboradores trabalham de forma flexível (adequadas aos seus horários, habilidades e outras necessidades) e sem vínculo empregatício (por projeto ou como freelancer). Essa tendência por profissionais temporários tem abalado diversos setores, já que muitos talentos com diversas habilidades muito procuradas pelas empresas estão preferindo oportunidades de trabalho freelancer.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Upwork and Freelancers Union — um grupo defensor do movimento freelance nos Estados Unidos — em 2015, 34% da força de trabalho no país é freelancer. No Reino Unido, a Independent Professionals Association estima que existem atualmente cerca de 4,64 milhões de pessoas que trabalham por conta própria.
Essa mudança no emprego e na forma que trabalhamos pelos últimos 10 anos em parte se deve aos novos profissionais que entram no mercado de trabalho: estima-se que os Millennials serão 72% da força de trabalho até 2025. É inquestionável que a acelerada disrupção e a inovação tecnológica vem impulsionando tudo isso, o que está fundamentalmente mudando a forma como agimos no mundo corporativo e até mesmo como definimos um dia de trabalho.
À medida que vemos, todo ano, recém-formados trocando os seus chapéus e togas por traje social e cases de laptop, devemos nos perguntar alguns pontos importantes: como as empresas encontram e atraem os melhores talentos em um mercado de trabalho que não para de mudar? Como fazer para encontrar pessoas com as competências certas para não só atender as necessidades de hoje, mas também as do futuro? Como vai ser o ambiente de trabalho do futuro e como podemos nos preparar para isso?
Embora seja difícil encontrar soluções para questões tão complexas, existem três pilares que as empresas – desde startups até grandes empresas consolidadas – podem levar em consideração ao alinhar as estratégias de gestão de talentos com o crescimento corporativo.
O que mais atrai na Gig Economy é a flexibilidade que ela oferece aos profissionais temporários. Se uma maior flexibilidade é preferível em vez de formas mais tradicionais, então também temos que abraçar a flexibilidade e a agilidade no nosso fluxo de trabalho. Temos que pensar como assegurar aos nossos colegas ter a mesma escolha e independência, possibilitando conciliar trabalho com vida pessoal.
Na EY, somos há muito tempo defensores de ambientes de trabalho flexíveis que variam desde trabalhar remotamente ou fora do tradicional horário de trabalho até acordos formais de trabalho flexível com um expediente reduzido ou sazonal. À medida que a gig economy cresce, vai ser ainda mais importante analisar o que a flexibilidade representa para o seu time e para sua empresa.
Recentemente, introduzimos um simples sistema chamado “previsão de tempo livre”. A ideia é que cada pessoa do time anote em um calendário compartilhado as noites ou os fins de semana em que eles estão ocupados com compromissos fora do trabalho para que as pessoas saibam quem é a melhor pessoa para entrar em contato numa fase com grande volume de trabalho. Originalmente introduzido no nosso processo de Assurance, a ideia foi tão bem recebida que agora já está presente em outras áreas do negócio também.
O “previsão de tempo livre” é um bom exemplo de como incentivar os colegas a pensar diferente e de forma inovadora. Ao dar poder aos colaboradores de desenvolver soluções criativas, eles conseguem encontrar novas formas de ajudar todas as pessoas da equipe. Trata-se de estimular o “intraempreendedorismo” ou incentivar os colaboradores a agir, a pensar e a se comportar como empreendedores dentro de uma grande empresa.
Uma empresa que incorpora um espírito “intraempreendedor” é capaz de incentivar a inovação, e portanto, aumentar a produtividade e a eficiência. O método também reduz o turnover de colaboradores e ajudar a atrair novos talentos. Talvez a inclusão de profissionais temporários pode ser uma solução que também atraia habilidades antes inexploradas e não disponíveis internamente, assim como um espírito “intraempreendedor” para a empresa.
Abraçar a flexibilidade e o “intraempreendedorismo” internamente são boas soluções para atrair novos talentos. Acima de tudo, ajudam, mas só elas não basta para que as empresas consigam reter pessoas qualificadas.
Um claro senso de propósito pode ajudar as empresas a enfrentar os desafios trazidos pela disrupção. Ele deve fundamentar qualquer nova iniciativa no ambiente de trabalho e qualquer mudança na estratégia do negócio.
De acordo com uma pesquisa recente da EY, feita em colaboração com o Harvard Business Review, a maioria dos executivos entrevistados acredita que empresas guiadas por um propósito são mais sucedidas, entregando produtos e serviços de alta qualidade, realizando transformações no negócio e retendo colaboradores e clientes. Ainda, aproximadamente metade admite que não têm uma estratégia que reflita o seu propósito.
É importante incentivar uma comunicação transparente e constante, numa via de mão dupla com os seus colaboradores sobre a direção para qual a empresa é conduzida e o papel que eles desempenham quando a organização atingir essas metas. Afinal, o seu pessoal é o seu ativo mais importante, os seus grandes advogados e os melhores em recrutar novos indivíduos para a empresa.
Já que a tecnologia e a disrupção reformulam a força de trabalho em todos os setores — em alguns casos eliminando cargos, em outros mudando a natureza das profissões existentes e criando novas –, é claro que agora é um momento interessante para as empresas aproveitarem as oportunidades que alinham as suas estratégias de gestão de talentos com o crescimento futuro.