O que diferencia um profissional com alto nível de inteligência emocional de outro conhecido por suas explosões de raiva, ataques de choro e mudanças repentinas de humor?
Certamente não é a presença (ou falta) de um talento inato para lidar com os sentimentos, garante Rodrigo Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (SBie).
“A inteligência emocional é resultado de treino, assim como qualquer outra competência”, diz o especialista. “Seu desenvolvimento começa já na infância para algumas pessoas, mas também pode acontecer mais tarde, na vida adulta, a qualquer tempo”.
Investir nessa habilidade comportamental é crucial para o sucesso em qualquer carreira. Mais do que nunca, a gestão dos sentimentos — tanto próprios como alheios — tem sido definida por especialistas em recursos humanos como uma habilidade decisiva para continuar empregado na crise e eventualmente ser alçado a uma posição de liderança.
Incorporar certos hábitos à sua rotina pode ajudar nesse aprendizado, diz Adriana Gattermayr, coach e consultora da Gattermayr Consulting. Ela diz que exercícios diários de capacidades como observação, empatia, resiliência, tolerância e autocontrole podem gradativamente transformar uma pessoa explosiva em alguém muito mais apropriado de si mesmo.
A seguir, confira 8 atitudes que você pode cultivar na rotina para se tornar mais inteligente do ponto de vista emocional, segundo os especialistas ouvidos por EXAME.com:
Diante de uma contrariedade, a reação tipicamente humana é reclamar. Quem faz isso está aliviando sua irritação, mas de forma pouco produtiva, diz Gattermayr. Isso porque há grandes chances de o problema continuar presente. Por isso, quem tem inteligência emocional substitui a queixa pela ação.
A cada vez que você sentir raiva ou frustração no cotidiano, interrompa rapidamente o ímpeto de reclamar e tente imaginar uma saída prática para melhorar a situação. Isso não quer dizer que você deva “desligar” as suas emoções, mas sim empregá-las de forma estratégica.
Um exercício simples para conhecer melhor as suas emoções é tentar capturá-las pela linguagem. Pergunte-se a cada vez que estiver diante de um sentimento desconhecido: isto é ansiedade, remorso, medo, euforia, raiva, inveja, alívio, decepção, arrependimento? Quanto mais precisa for a palavra, melhor.
Identificada a emoção, o próximo passo é observar qual atitude ela costuma desencadear em você. “Um bom profissional se pergunta constantemente ‘toda vez que sinto isto, ajo desta forma?’”, diz Gattermayr. “Ao descobrir os seus padrões de comportamento, você consegue adequá-los a cada momento da vida, em vez de se tornar escravo deles”.
O desenvolvimento da inteligência emocional não se restringe apenas ao seu mundo interior: ele também depende da sua conexão com as outras pessoas. A dica de Gattermayr é exercitar a sua sensibilidade às emoções dos outros, mesmo quando eles tentam disfarçar.
É como um quebra-cabeças: quanto mais você observa a pessoa, mais peças aparecem e mais elas se encaixam. “É muito útil para percebermos que nem toda briga é pessoal”, diz a especialista. “Também é um ótimo exercício ‘anti-mimimi’, até porque muitas vezes descobrimos que agiríamos da mesma forma se estivéssemos no lugar do outro”.
Segundo Rodrigo Fonseca, presidente da SBie (Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional), estar sempre disposto a apoiar colegas, chefes e subordinados é uma forma de fortalecer um dos pilares da inteligência emocional: a empatia.
“Preciso me colocar no lugar do outro para saber se ele precisa de ajuda, isto é, preciso me sentir como ele se sente”, explica. Além disso, a disponibilidade e a cooperação criam um importante vínculo emocional entre você e as outras pessoas do seu ambiente de trabalho.
Um dos grandes mitos em torno da inteligência emocional é a ideia de que ela corresponde à serenidade absoluta. Pelo contrário: a competência tem a ver com o bom uso de emoções boas e ruins, fortes ou fracas, de forma que o indivíduo não fique refém delas.
Assim, é importante exercitar a sua autenticidade no cotidiano e não tentar agradar sempre. “Essa honestidade tem a ver com o entendimento de que questões difíceis muitas vezes precisam ser abordadas para o crescimento de todos”, diz Gattermayr. Se você evita conflitos o tempo todo, nunca vai desenvolver musculatura para superar os problemas.
Alguém fez algo no trabalho que você achou estranho ou ridículo? Antes de julgar essa pessoa, procure entender suas motivações e reconhecer que nem todo mundo pensa como você, aconselha Fonseca. “Quem tem inteligência emocional sabe apreciar as diferenças entre as pessoas”, diz ele.
Isso também significa cortar radicalmente o hábito da fofoca e da maledicência, que vão na contramão da empatia. No lugar dessas práticas, é mais produtivo observar o outro de forma paciente e buscar aprender algo com ele.
Antes de falar com uma pessoa no trabalho, acostume-se a fazer uma série de perguntas prévias. Este é o melhor momento para abordá-la? Como ela está se sentindo hoje? O assunto pede delicadeza ou firmeza, gravidade ou leveza? O local é adequado para a conversa?
Segundo Gattermayr, esse é um exercício de autorregulação, feito a partir da observação das emoções alheias e do aprendizado sobre os seus próprios padrões de comportamento. A hora e o lugar são corretos, você calibrou seu discurso, mas a pessoa acabou se irritando e gritou com você? A dica é respirar fundo, não revidar e pedir gentilmente que a conversa continue mais tarde.
Pessoas com baixa inteligência emocional cedem facilmente aos seus próprios impulsos. Ocorre que pequenos prazeres não trazem felicidade. “Um estudo clássico mostra que crianças que conseguem sacrificar uma bala agora para comer duas balas daqui a uma hora se tornam adultos mais bem-sucedidos”, diz Gattermayr. Daí a importância de não sucumbir a sentimentos momentâneos e sempre pensar nos efeitos de cada ação a longo prazo.
Controlar os seus próprios impulsos também ajudará o indivíduo a ser mais altruísta — o que também traz mais felicidade. Ao pensar nos outros, você é obrigado a regular as suas próprias emoções e a sacrificar o próprio conforto de vez em quando. Não existe hábito mais propício para desenvolver sua inteligência emocional e construir uma vida social harmônica dentro e fora do trabalho.