Você já viu ou ouviu falar do filme “Tempos Modernos”? Nele, Charlie Chaplin interpreta seu personagem mais famoso — o “Vagabundo”, que tenta ganhar a vida no mundo industrializado. O ano era 1936, e o ator e diretor mirava a forma desumana como trabalhadores passaram a ser tratados depois da revolução industrial. Empregado em grandes indústrias, o personagem vive às voltas com engrenagens gigantes, maquinários e outros assustadores monstrengos de uma linha de produção.
Se estivesse vivo hoje, 80 anos depois do lançamento do filme, é provável que Chaplin ficasse surpreso ao ver que muita coisa continua igual. Claro que os tempos — e os conceitos — são outros, mas é inegável que muitos líderes ainda olhem para os funcionários como meras peças, pouco diferentes dos materiais que trabalham.
Mas Chaplin também ficaria orgulhoso ao constatar que este é um cenário em extinção. Hoje, cada vez mais empresas entendem a importância de cultivar o melhor ambiente de trabalho possível, investindo no material mais precioso que têm: as pessoas.
Confraternização e pertencimento: os segredos da Printi
Uma dessas empresas é a Printi, gráfica online sediada em São Paulo. Criada por dois estrangeiros — o alemão Florian Hagenbuch e o húngaro Mate Pencz — a companhia vem crescendo numa média de mais de 100% todos os anos. E é claro que, sem um cuidadoso trabalho de gestão de pessoal, isso não seria possível. Trata-se de um conjunto de “hábitos e práticas saudáveis” que, aos poucos, foram contribuindo para um time mais produtivo e engajado.
Boa parte da “culpa” por isso recai sobre Fabiana Montes, responsável pela Gestão de Pessoas da Printi. E ela compartilha agora algumas das iniciativas e aprendizados que ajudam a explicar o porquê desse êxito.
Um primeiro ensinamento de Fabiana diz respeito ao entendimento humanizado da gestão de pessoas; ao ato de pensar o bem estar dos colaboradores em cada detalhe, tornando o dia a dia da empresa naturalmente agradável.
E ela logo dá um exemplo sobre como isso se traduz na prática:
“HOJE MESMO UM DE NOSSOS COLABORADORES NÃO ESTÁ MUITO BEM DO ESTÔMAGO. ENTÃO, LIGUEI PARA O RESTAURANTE DA EMPRESA E PEDI PARA PREPARAREM UMA BATATA COZIDA COM FRANGO GRELHADO”. ABRANGÊNCIA DOS EVENTOS”.
Essa atenção ao detalhe, garante Fabiana, faz toda a diferença. O entendimento de que, embora se trate de um conjunto, cada pessoa tem necessidades diferentes — e todas devem ser acolhidas, na medida do possível.
No caso da Printi, são muitos funcionários — e muitas demandas. Mesmo assim, Fabiana e seu time de três analistas procuram dar conta de todos esses detalhes. E conseguem, já que os colaboradores demonstram motivação e se sentem parte de um todo.
Além desse cuidado cotidiano, Fabiana investe na confraternização do time — de todo o time. “Não pode ter diferença. Ou implemento um programa para todo mundo, ou não implemento para ninguém”.
Os bons e velhos happy hours, por exemplo, com uns comes e bebes. Na Printi, são mensais. E como boa parte dos funcionários trabalha em turnos, são realizadas duas edições: uma das 14h às 17h, e outra das 18h às 21h, para que todos possam aproveitar. “É uma prática de que os colaboradores gostam muito”. E as famílias deles também são levadas em consideração: “em outubro, o happy hour foi em homenagem às crianças. Criamos atividades lúdicas para os filhos dos funcionários realizarem em casa”.
Fabiana afirma que essa aproximação é fundamental para fortalecer a conexão com a empresa. “Sempre que possível, convidamos as famílias a virem à Printi, para conhecerem onde o pai ou a mãe trabalham”.
Nem só de confraternizações etílicas é composta a estratégia de gestão de pessoas da Printi. A saúde do pessoal também está no radar. Por isso, a cada manhã, os colaboradores são recebidos com frutas fresquinhas, vindas diretamente de uma banca do CEAGESP, que fica pertinho da sede da empresa. São as Manhãs Saudáveis, que acontecem de segunda a sexta, sem exceção.
Outra iniciativa que, segundo Fabiana, vem dando ótimos resultados é o Projeto Passaporte. “O intuito é acolher os novos colaboradores em toda a empresa. Independentemente de onde eles vão trabalhar, acabam passando por todas as áreas e departamentos”. E a parte da produção recebe uma ênfase especial, para que “o recém-chegado consiga entender o que acontece, por exemplo, na produção de um banner, para que ela entenda o negócio como um todo”.
Para isso, foi criado um passaporte, mesmo, com a visão e os valores da empresa, e carimbos para todas as áreas por onde o novo colaborador passa. O documento também serve para dar informações administrativas importantes, como sobre pagamento, feedbacks etc.
Logo que um novo colaborador é contratado, ele passa por um treinamento. E ali Fabiana já constata que o programa é bastante efetivo.
“AS PESSOAS JÁ VÃO PARA O TREINAMENTO MAIS PREPARADAS, CONHECENDO MELHOR O NEGÓCIO E ENTENDENDO MAIS DA PARTE TÉCNICA DO QUE ESTÁ SENDO EXPLICADO. TANTO QUE AS NOTAS DOS TESTES PÓS-TREINAMENTO TIVERAM MELHORAS”.
Mas Fabiana também alerta para os riscos que surgem caso esses processos não sejam bem conduzidos: “o próprio happy hour é um evento que, se não for bem supervisionado, pode sair ‘pela culatra’. O pessoal pode levar alguma bebida mais forte, e tal. É fundamental conhecer a maturidade do público com o qual se está trabalhando. Ou vira muito ônus para pouco bônus”.
Em conclusão, Fabiana conta que está sempre de antena ligada em busca de novos “hábitos saudáveis” para implementar no ambiente de trabalho da Printi. “Estou sempre de olho em outras empresas que têm essa mesma pegada, justamente para ver o que vai se adaptar ao nosso mundo ali dentro, e o que não cabe”.
Dentro da empresa, as antenas estão ainda mais ativadas. Porque Fabiana sempre realiza pesquisas com o time, para verificar o que está e o que não está dando certo.
A ideia, afinal, é oposta àquela que vemos “Tempos Modernos”: “uma constante busca de proporcionar um ambiente cada vez melhor às pessoas, levando em consideração as necessidades delas”. Charlie Chaplin, tremendo humanista que era, certamente assinaria embaixo.