Muitas são as razões pelas quais as pessoas decidem empreender: mudar de vida, não ter mais chefe importunando, maior liberdade de horário, dificuldade em arrumar um novo emprego, insatisfação com o salário, assumir o negócio da família e implementar uma ideia estão entre elas.
As razões equivocadas seguem o padrão chamado pelos psicólogos de “fuga de negativo”, baseado na perspectiva de que as pessoas têm, geralmente, duas maneiras de tomar uma decisão: por fuga/medo de algo negativo (não ter mais chefe, por exemplo) ou por um ideal, por amor a uma causa.
É neste ponto que a maioria dos empreendedores de sucesso se diferenciam: eles empreendem não para fugir de algo, ou até mesmo porque tiveram uma ideia genial, mas porque veem o empreendedorismo, a atividade em si, como seu propósito de vida. Eles se identificam e sentem prazer com os ingredientes da vida empreendedora, como riscos, incertezas, altos e baixos, mercados, metas e sonhos.
O verdadeiro empreendedor não sabe viver e ser feliz de outra maneira, e é isso, de forma intrínseca e natural, que gera energia e automotivação que parecem inesgotáveis, sempre disponíveis para motivá-lo a se levantar, seguir em frente e manter a certeza inabalável de que chegará lá!
Vou compartilhar um pouco da minha experiência de vida. Aos 17 anos, estudava em uma escola militar e, pela própria natureza da atividade, estava com uma carreira segura e garantida no oficialato. Foi no fim da ditadura, quando a carreira militar ainda conferia muito status. Sem saber a razão, eu estava muito incomodado com aquela carreira, e depois de muitas conversas acaloradas com amigos - que não conseguiam entender a vida fora da caserna - entendi que chegara o momento de decidir pelo meu futuro.
Fui até a biblioteca do quartel, dividi uma folha em branco ao meio, e passei algumas horas anotando as vantagens e desvantagens da carreira militar, desde aquele presente dia até a aposentadoria, abordando todos os aspectos possíveis e imagináveis.
Ao final, li de forma desapegada todos os pontos e imediatamente decidi que pediria o meu desligamento. Sabe qual foi o fator chave para essa decisão? Uma palavra apenas: previsibilidade.
Na carreira militar praticamente tudo já está definido: os anos de estudo, os salários, as promoções...os limites! E aquilo era a morte para mim, eu queria poder sonhar grande, arriscar, sentir frio na barriga! Sem nada saber sobre empreendedorismo, já havia decidido por ele aos 17 anos.
Era meu jeito de encontrar alegria e ver beleza na vida. Hoje, quando olho para trás, independentemente do sucesso que consegui, vejo que foi a decisão mais acertada da minha vida! Optei por um ideal, por amor a um estilo de vida.
Por outro lado, há empreendedores que abrem um negócio por razões equivocadas e, apesar disso, conseguem manter a motivação em alta e conquistar enorme sucesso. O que ocorre, nestes casos, é que o DNA empreendedor estava lá, adormecido, mas a pessoa não tinha consciência dele. Ao experimentar a vida empreendedora, tudo veio à tona. O motivo equivocado apenas criou a oportunidade para que a vocação verdadeira pudesse aflorar.
Para aqueles que não têm afinidade com os ingredientes da vida empreendedora, nem tudo está perdido. Se conviver diariamente com riscos, incertezas, falta de recursos, altos e baixos, mantendo a esperança e automotivação, sem perder o sono, não é da sua natureza, não se desespere, porque mesmo assim você poderá se tornar um empreendedor de sucesso.
Você precisará, entretanto, desenvolver uma resiliência acima da média, um espírito de luta incomum, para não sucumbir aos desafios do início da empreitada. Ao longo do tempo, vivenciando o dia a dia da vida empreendedora com resiliência, tudo poderá se tornar natural e o seu DNA terá sido transformado! Caso isso não ocorra, empreender se tornará um sofrimento e você deverá considerar seriamente a possibilidade de mudar de atividade. Bons negócios.