O gerente de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, disse nesta terça-feira (5) que a situação atual do câmbio, com o dólar valorizado, poder ser uma saída para a desaceleração da indústria.
Segundo ele, há defasagem nos eventuais impactos favoráveis da alta do dólar para as empresas, em função da vigência de contratos anteriores ou de uma demora natural para a retomada das exportações.
Para o gerente, o fortalecimento do dólar favorece também os países asiáticos e a União Europeia, com moedas igualmente desvalorizadas e produtos baratos competindo com os brasileiros no exterior. Mesmo assim, considera que o cenário “precisa ser explorado".
Castelo Branco deu as declarações ao comentar o resultado da pesquisa Indicadores Industriais, divulgada nesta terça-feira pela CNI. O levantamento mostrou queda de todos os indicadores da indústria no primeiro trimestre deste ano. Segundo o gerente de Política Econômica, o quadro reflete tanto gargalos tradicionais quanto as medidas de ajuste fiscal e aperto monetário mais recentes adotadas pela equipe econômica do governo.
— As medidas de ajuste, a alta dos juros reduzem a demanda das famílias. A tendência de retração do emprego se intensifica e isso impacta na renda do trabalhador [industrial]. [O cenário adverso na indústria] é reflexo das dificuldades do passado, como a competitividade, e, sem dúvida, das medidas de ajuste.
Ele avalia ainda que é impossível prever quando haverá recuperação. Castelo Branco ainda se referiu às medidas provisórias que alteram direitos trabalhistas. Para ele com a demanda interna retraída e o dólar valorizado, as exportações são um caminho.
— A expectativa é que essas medidas de ajuste fiscal e monetário, que funcionam como redutores de demanda, comecem a alterar a confiança do investidor e comece a recuperação da economia. Mas quando, exatamente, não se sabe, até porque algumas medidas ainda estão em discussão no Congresso.
Ele defendeu que empresas e governo se empenhem na busca do mercado externo.
— Quem exporta são as empresas. As empresas têm que buscar. Mas, após anos de dificuldade de competição, muitas se retraíram. Depois que se retraem, o retorno é um pouco demorado. O governo tem que estimular, por meio de redução de burocracia, acordos comerciais. Ele tem dado pouca ênfase nisso, porque as commodities [itens básicos com cotação internacional] garantiram superávits comerciais na década passada. Mas esse cenário mudou.