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Banco Central foi capturado pelo mercado financeiro?

Por Odilon Guedes (*)

O mercado financeiro projeta novos aumentos da taxa Selic até o fim do ano, dos atuais 10,5% a.a para 11,75% a.a. E, aparentemente, o Banco Central continua capturado pelo mercado financeiro, independentemente de quem compõe sua diretoria, como demonstra o aumento de 0,25 ponto percentual da Selic na última reunião do Copom. A pressão do mercado sobre a decisão dos diretores do Bacen fica evidente ao se constatar que, das 126 entidades financeiras consultadas, 114 previam o aumento da Selic.
Na prática só se ouve a expectativa da Faria Lima. São praticamente inexistentes as opiniões dos representantes da indústria, serviços, comércio e dos trabalhadores. O texto publicado após a reunião, para justificar o aumento da Selic, informa que há um cenário marcado pela resiliência da atividade econômica doméstica, por pressões no mercado de trabalho e expectativas desancoradas da inflação.

Sobre a atividade econômica, no segundo trimestre deste ano houve um crescimento do PIB de 1,4%, acima do esperado para esse índice e hoje as projeções para esse crescimento em 2024 chegam a 3,2% o que é algo extremamente positivo e não preocupante. Os dados do segundo trimestre apontam que o maior crescimento ocorreu na área industrial, na Formação Bruta de Capital Fixo e na indústria de transformação o que potencializa o aumento da produção para atender o aumento da demanda. O crescimento do PIB significa mais emprego, mais renda, mais consumo, mais arrecadação e mais emprego, o que é extremamente positivo porque sinaliza para a possibilidade do início de um ciclo virtuoso em nossa economia. A decisão do BC demonstra que, na prática, o colegiado age contra a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores de baixa renda e da classe média e contra a mobilidade social desses setores sociais.

Sobre as pressões no mercado de trabalho, o aumento do emprego deveria ser comemorado, pois melhora a qualidade de vida da população, aumenta a autoestima de quem consegue uma nova vaga nesse mercado e de sua família impulsionando o conjunto da economia com os resultados que apontamos acima. Ao mesmo tempo, reduz a pressão do Estado por políticas sociais.

A respeito das expectativas desancoradas da inflação, é necessário lembrar que a atual inflação e a projetada para o ano de 2024 não atingiram o teto da meta. A inflação do mês de agosto apresentou uma desaceleração de 0,02% maior do que a projetada pelo mercado.

Uma das preocupações apontadas em relação a inflação é que, com as queimadas, os preços dos alimentos podem subir, mas sabemos que o aumento da taxa de juros não tem capacidade de impedir o movimento de alta. Além disso, caso haja pressão inflacionária nos alimentos, o governo pode lançar mão da importação desses produtos o que é totalmente viável pois há US$ 355 bilhões de reservas internacionais. Ainda é necessário destacar que, com a queda da taxa de juros nos EUA, há a possibilidade da entrada de bilhões de dólares em nosso país, o que levará a valorização da nossa moeda ajudando o combate à inflação.

Há ainda algumas questões que no atual contexto precisam serem lembradas. Nos últimos 12 meses, até julho de 2024 o pagamento de juros da dívida pública alcançou US$ 869,8 bilhões, 7,73% do PIB, algo insuportável por qualquer economia. Há muitos anos o pagamento de juros é a principal causa para o aumento incessante da dívida pública. Um ponto percentual de redução da taxa Selic, representa cerca de R$ 44 bilhões de economia, que pode ser utilizada para novos investimentos e também para diminuir o déficit público.

Todos esses pontos deixam claro que a influência do mercado financeiro sobre o Bacen compromete permanentemente a perspectiva de superação dos problemas sociais e econômicos do Brasil.


(*) Odilon Guedes: Economista, Mestre em Economia PUC/SP, Professor Universitário e Vice Presidente do Corecon/SP. Foi Vereador e Subprefeito na Cidade de São Paulo. Autor do livro Orçamento Público e Cidadania - Editora Livraria da Física.

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